Balas de Estalo - Machado de Assis
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Sinopse
Balas de estalo foi o nome dado ao conjunto de crônicas que Machado de Assis escreveu, sob pseudônimo, no jornal Gazeta de Notícias entre 1883 e 1886. Heloisa Helena Paiva De Luca, que vem pesquisando Machado há anos, identificou mais duas delas ainda não publicadas em qualquer outra coletânea.
Prólogo
SABE-SE que a Sociedade Portuguesa de Beneficência acaba de abrir uma enfermaria à medicina
dosimétrica. Este é o nome, creio eu; e não há por onde trocar os nomes às coisas, que já os trazem de
nascença.
Mas não basta abrir enfermarias; é útil explicá-las. Se a dosimetria quer dizer que os remédios dados em
doses exatas e puras curam melhor ou mais radicalmente, ou mais depressa, é, na verdade, grande crueza
privar os restantes enfermos de tão excelso benefício. Uns ficarão meio curados, ou mal curados, outros
sairão dali lestos e pimpões; e isto não parece justo.
Note-se bem que eu não ignoro que os doentes, por estarem doentes, não perdem o direito à liberdade;
mas, entendamo-nos: é a liberdade do voto, a liberdade de consciência, a liberdade de testar, a liberdade
do ventre (teoria Lulu Sênior); por um sentimento de compaixão, a liberdade de descompor. Mas, no que
toca aos medicamentos, não! Concedo que o doente possa escolher entre a alopatia e a homeopatia,
porque são dois sistemas, — ou duas escolas, — a escola cadavérica (versão Maximiano) e a escola
aquática. Mas não tratando a dosimetria senão da perfeita composição dos remédios, não há, para o
doente, a liberdade de medicar-se mal. Ao contrário, este era o caso de aplicar o velho grito muçulmano:
— crê ou morre.