Casa Velha - Machado de Assis
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Sinopse
Casa Velha é um romance de Machado de Assis, publicado em folhetins na revista carioca Estação, de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886.
A primeira edição saiu em livro somente em 1943, graças aos esforços da crítica literária Lúcia Miguel Pereira. A edição contou com introdução crítica da estudiosa e ilustrações de Santa Rosa.
Embora tenha sido publicado na fase dita realista do autor, supõe-se que Machado de Assis tenha aproveitado material não-publicado de sua fase romântica. Eis porque a obra caiu no esquecimento, ainda não tendo sido resgatada.
Prólogo
CAPÍTULO I
ANTES E DEPOIS DA MISSA
Aqui está o que contava, há muitos anos, um velho cônego da Capela Imperial:
—Não desejo ao meu maior inimigo o que me aconteceu no mês de abril de 1839. Tinha-me
dado na cabeça escrever uma obra política, a história do reinado de D. Pedro I. Até então esperdiçara
algum talento em décimas e sonetos, muitos artigos de periódicos, e alguns sermões, que cedia a
outros, depois que reconheci que não tinha os dons indispensáveis ao púlpito. No mês de agosto de
1838 li as Memórias que outro padre, Luís Gonçalves dos Santos, o Padre Perereca chamado, escreveu
do tempo do rei, e foi esse livro que me meteu em brios. Achei-o seguramente medíocre, e quis
mostrar que um membro da igreja brasileira podia fazer cousa melhor.
Comecei logo a recolher os materiais necessários, jornais, debates, documentos públicos, e a
tomar notas de toda a parte e de tudo. No meado de fevereiro, disseram-me que, em certa casa da
cidade, acharia, além de livros, que poderia consultar, muitos papéis manuscritos, alguns reservados,
naturalmente importantes, porque o dono da casa, falecido desde muitos anos, havia sido ministro de
Estado. Compreende-se que esta notícia me aguçasse a curiosidade. A casa, que tinha capela para uso
da família e dos moradores próximos, tinha também um padre contratado para dizer missa aos
domingos, e confessar pela quaresma: era o Rev. Mascarenhas. Fui ter com ele para que me alcançasse
da viúva a permissão de ver os papéis.
— Não sei se lhe consentirá isso, disse-me ele; mas vou ver.
— Por que não há de consentir? E claro que não me utilizarei senão do que for possível, e
com autorização dela.