Casa, não casa - Machado de Assis
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Prólogo
Se alguma das minhas leitoras morasse na Rua de S.Pedro da cidade
nova, há cousa de quinze anos, e estivesse à janela na noite de 16 de
março, entre uma e duas horas, teria ocasião de presenciar um caso
extraordinário.
Morava ali, entre a Rua Formosa e a Rua das Flores, uma moça de vinte
e dous anos, bonita como todas as heroínas de romances e contos, a
qual moça na sobredita noite de 16 de março, entre uma e duas horas,
levantou-se da cama e a passo lento foi até à sala com uma luz na mão.
Não estando as janelas fechadas, a leitora, caso morasse defronte, veria
a nossa heroína pousar a vela sobre um aparador, abrir um álbum, tirar
um retrato, que não saberia se era de homem ou de mulher, mas que eu
lhe afirmo ser de mulher.
Tirado o retrato do álbum, pegou a moça na vela, desceu a escada, abriu
a porta da rua e saiu. A leitora ficaria naturalmente assombrada com tudo
isto; mas que não diria quando a visse seguir pela rua acima, voltar a das
Flores, ir até à do Conde, e parar à porta de uma casa?