Conversão de um Avaro - Machado de Assis
Download no computador / eBook Reader / Mobile
134 kb
Prólogo
Os vícios equilibram-se muita vez; outras vezes neutralizam-se ou vence um a outro... Há
pecados que derrubam pecados, ou, pelo menos, quebram-lhes as pernas.
Gil Gomes tinha uma casa de colchões em uma das ruas do bairro dos Cajueiros. Era um
homem de cinqüenta e dois anos, cheio de corpo, vermelho e avaro.
Ganhara um bom pecúlio a vender colchões e a não usar nenhum. Note-se que não era
homem sórdido, pessoalmente desasseado; não. Usava camisa lavada, calça e rodaque
lavados. Mas era a sua maior despesa. A cama era um velho sofá de palhinha; a mobília
eram duas cadeiras, uma delas quebrada, uma mesa de pinho e um baú. A loja não era
grande nem pequena, mas regular, cheia de mercadoria. Tinha dois operários.
Era mercador de colchões esse homem, desde 1827. Esta história passa-se em 1849.
Nesse ano adoeceu Gil Gomes e um amigo, que morava no Engenho Velho, levou-o para
casa, pelo motivo ou pretexto de que na cidade não poderia curar-se bem.
— Nada, meu amigo, disse ele a primeira vez que o outro lhe falou nisso, nada. Isto não é
nada.
— É sim; pode ser, ao menos.
— Qual! Uma febrícula; vou tomar um chá.