Curta História - Machado de Assis
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Prólogo
A leitora ainda há de lembrar-se do Rossi, o ator Rossi, que aqui nos deu
tantas obras-primas do teatro inglês, francês e italiano. Era um
homenzarrão, que uma noite era terrível como Otelo, outra noite meigo
como Romeu. Não havia duas opiniões, quaisquer que fossem as
restrições, assim pensava a leitora, assim pensava uma D. Cecília, que
está hoje casada e com filhos.
Naquele tempo esta Cecília tinha dezoito anos e um namorado. A
desproporção era grande; mas explica-se pelo ardor com que ela amava
aquele único namorado, Juvêncio de Tal. Note-se que ele não era bonito,
nem afável, era seco, andava com as pernas muito juntas, e com a cara
no chão, procurando alguma cousa. A linguagem dele era tal qual a
pessoa, também seca, e também andando com os olhos no chão, uma
linguagem que, para ser de cozinheiro, só lhe faltava sal. Não tinha
idéias, não apanhava mesmo as dos outros; abria a boca, dizia isto ou
aquilo, tornava a fechá-la, para abrir e repetir a operação.