Evolução - Machado de Assis
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Prólogo
CHAMO-ME INÁCIO; ele, Benedito. Não digo o resto dos nossos nomes por um
sentimento de compostura, que toda a gente discreta apreciará. Inácio basta. Contentemse
com Benedito. Não é muito, mas é alguma cousa, e está com a filosofia de Julieta:
"Que valem nomes, perguntava ela ao namorado. A rosa, como quer que se lhe chame,
terá sempre o mesmo cheiro." Vamos ao cheiro do Benedito.
E desde logo assentemos que ele era o menos Romeu deste mundo. Tinha quarenta e
cinco anos, quando o conheci; não declaro em que tempo, porque tudo neste conto há de
ser misterioso e truncado. Quarenta e cinco anos, e muitos cabelos pretos; para os que o
não eram usava um processo químico, tão eficaz que não se lhe distinguiam os pretos
dos outros-- salvo ao levantar da cama; mas ao levantar da cama não aparecia a
ninguém. Tudo mais era natural, pernas, braços, cabeça, olhos, roupa, sapatos, corrente
do relógio e bengala. O próprio alfinete de diamante, que trazia na gravata, um dos mais
lindos que tenho visto, era natural e legítimo, custou-lhe bom dinheiro; eu mesmo o vi
comprar na casa do... Já me ia escapando o nome do joalheiro;-- fiquemos na Rua do
Ouvidor.