Lágrimas de Xerxes - Machado de Assis
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Prólogo
SUPONHAMOS (tudo é de supor) que Julieta e Romeu, antes que Frei Lourenço os
casasse, travavam com ele este diálogo curioso:
JULIETA. Uma só pessoa?
FREI LOURENÇO. Sim, filha, e, logo que eu houver feito de vós ambos uma só pessoa,
nenhum outro poder vos desligará mais. Andai, andai, vamos ao altar, que estão acendendo
as velas... (Saem da cela e vão pelo corredor).
ROMEU. Para que velas? Abençoai-nos aqui mesmo. (Pára diante de uma janela). Para que
altar e velas? O céu é o altar: não tarda que a mão dos anjos acenda ali as eternas estrelas;
mas, ainda sem elas, o altar é este. A igreja está aberta; podem descobrir-nos. Eia,
abençoai-nos aqui mesmo.
FREI LOURENÇO. Não, vamos para a igreja; daqui a pouco estará tudo pronto. Curvarás a
cabeça, filha minha, para que olhos estranhos, se alguns houver, não cheguem a
reconhecer-te...
ROMEU. Vã dissimulação; não há, em toda Verona, um talhe igual ao da minha bela
Julieta, nenhuma outra dama chegaria a dar a mesma impressão que esta. Que impede que
seja aqui? O altar não é mais que o céu.