Noite de Almirante - Machado de Assis
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Prólogo
Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e
enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de
mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa
viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os
companheiros disseram-lhe, rindo:
— Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os
braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva...
Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, como eles dizem, uma
dessas grandes noites de almirante que o esperava em terra. Começara a paixão três meses
antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho
negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a
tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o
acompanharia para a vila mais recôndita do interior.
A velha Inácia, que morava com ela, dissuadiu-os disso; Deolindo não teve remédio
senão seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência. Como fiança
recíproca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade.