O Oráculo - Machado de Assis
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Prólogo
Conheci outrora um sujeito que era um exemplo de quanto pode a má fortuna quando se
dispõe a perseguir um pobre mortal.
Leonardo (era o nome dele) começara por ser mestre de meninos, mas tão mal se houve
que no fim de um ano perdera o pouco que possuía e achou-se reduzido a três alunos.
Tentou depois um emprego público, arranjou as cartas de empenho necessárias, chegou
mesmo a dar um voto contra as suas convicções, mas quando tudo lhe sorria, o
ministério, na forma do geral costume, achou contra si a maioria da véspera e pediu
demissão. Subiu um ministério do seu partido, mas o infeliz tinha-se tornado suspeito ao
partido por causa do voto e teve uma resposta negativa.
Auxiliado por um amigo da família, abriu uma casa de comércio; mas, tanto a sorte, como
a velhacaria de alguns empregados, deram com a casa em terra, e o nosso negociante
levantou as mãos para o céu quando os credores concordaram em receber uma certa
quantia inferior ao débito, isto em tempo indeterminado.
Dotado de alguma inteligência e levado pela necessidade mais que pelo gosto, fundou
uma gazeta literária; mas os assinantes, que eram da massa dos que preferem ler sem
pagar a impressão, deram à gazeta de Leonardo uma morte prematura no fim de cinco
meses.