O Velho Senado - Machado de Assis
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Prólogo
A PROPÓSITO de algumas litografias de Sisson, tive há dias uma visão do Senado de
1860. Visões valem o mesmo que a retina em que se operam. Um político, tornando a ver
aquele corpo, acharia nele a mesma alma dos seus correligionários extintos, e um
historiador colheria elementos para a história. Um simples curioso não descobre mais que o
pinturesco do tempo e a expressão das linhas com aquele tom geral que dão as cousas
mortas e enterradas.
Nesse ano entrara eu para a imprensa. Uma noite, como saíssemos do Teatro Ginásio,
Quintino Bocaiúva e eu fomos tomar chá. Bocaiúva era então uma gentil figura de rapaz,
delgado, tez macia, fino bigode e olhos serenos. Já então tinha os gestos lentos de hoje, e
um pouco daquele ar distant que Taine achou em Mérimée. Disseram cousa análoga de
Challemel-Lacour, que alguém ultimamente definia como très républicain de conviction et
très aristocrate de tempérament. O nosso Bocaiúva era só a segunda parte, mas já então
liberal bastante para dar um republicano convicto. Ao chá, conversamos primeiramente de
letras, e pouco depois de política, matéria introduzida por ele, o que me espantou bastante,
não era usual nas nossas práticas.