O Almada - Machado de Assis
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Prólogo
O ASSUNTO deste poema e rigorosamente histórico. Em 1659, era prelado administrador
do Rio de Janeiro o Dr. Manuel de Sousa Almada, presbítero do hábito de S. Pedro. Um
tabelião, por nome Sebastião Ferreira Freire foi vítima de uma assuada, em certa noite,
na ocasião em que se recolhia para casa. Queixando-se ao ouvidor-geral Pedro de
Mustre Portugal, abriu este devassa, vindo a saber-se que eram autores do delito alguns
fâmulos do prelado. O prelado, apenas teve notícia do procedimento do ouvidor, mandou
intimá-lo para que lhe fizesse entrega da devassa no prazo de três dias, sob pena de
excomunhão. Não obedecendo o ouvidor, foi excomungado na ocasião em que
embarcava para a capitania do Espírito Santo. Pedro de Mustre suspendeu a viagem e foi
à Câmara apresentar um Protesto em nome do rei. Os vereadores comunicaram a notícia
do caso ao governador de cidade, Tomé de Alvarenga; por ordem deste foram
convocados alguns teólogos, licenciados, o reitor do Colégio, o dom Abade, o Prior dos
Carmelitas, o guardião dos Franciscanos, e todos unanimemente resolveram suspender a
excomunhão do ouvidor e remeter todo o processo ao rei.
Tal é o episódio histórico que me propus celebrar e que os leitores Podem ver no tomo
III dos Anais do Rio de Janeiro, de Baltasar da Silva Lisboa.