O Caso do Romualdo - Machado de Assis
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Prólogo
UM DIA, de manhã, D. Maria Soares, que estava em casa, descansando de um baile para
ir a outro, foi procurada por D. Carlota, companheira antiga de colégio, e sócia agora da
vida elegante. Considerou isso um benefício do acaso, ou antes um favor do céu, com o
fim único de lhe matar as horas aborrecidas. E merecia esse favor, pois de madrugada,
ao voltar do baile, não deixou de cumprir as rezas do costume, e, logo à noite, antes de ir
para o outro, não deixará de persignar-se.
D. Carlota entrou. Ao pé uma da outra pareciam irmãs; a dona da casa era, talvez, um
pouco mais alta, e tinha os olhos de outra cor; eram castanhos, os de D. Carlota pretos.
Outra diferença: esta era casada, D. Maria Soares, viúva: — ambas possuíam alguma
cousa, e não chegavam a trinta anos; parece que a viúva contava apenas vinte e nove,
posto confessasse vinte e sete, e a casada andava nos vinte e oito. Agora, como é que
uma viúva de tal idade, bonita e abastada, não contraía segundas núpcias é o que toda a
gente ignorou sempre. Não se pode supor que fosse fidelidade ao morto, pois é sabido
que ela não o amava muito nem pouco; foi um casamento de arranjo. Talvez não se pode
crer que lhe faltassem pretendentes; tinha-os às dúzias.