Possível e Impossível - Machado de Assis
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Prólogo
É um lugar-comum em quase todos os poetas novéis maldizer do destino e tecer elogios
ao desânimo aos vinte anos de idade.
Resulta daqui que as verdadeiras dores, caindo no descrédito comum, não podem achar
indulgência da parte de ninguém; e quando um poeta, na aurora da vida e nos primeiros
movimentos da inspiração, lembra-se de traduzir, em um hino de sua lira, uma dor que o
consome ou um desânimo que o abate, a multidão recebe o hino e o poeta com o mesmo
sorriso de incredulidade reservado para todos.
Será entretanto impossível esta situação? A mocidade é o tempo das ilusões; a mocidade
dos poetas ainda mais. A imaginação mais viva dá maior corpo e maior luz aos sonhos e
às quimeras. Tanto mais vivas são, tanto maior é a dor de os ver desvanecidos. Ora,
figure-se um coração ardente, uma imaginação exaltada, um espírito veemente, abrindo
os olhos ao mundo fantástico das quimeras e dos sonhos. Figure-se tudo isto, e veja-se
se, ao primeiro desencanto, ao primeiro obstáculo, esta criatura sensível não deve
manifestar as suas dores e os seus desprazeres na linguagem veemente e franca que
Deus lhe deu.