Silvestre - Machado de Assis
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Prólogo
José S. P. Vargas era o péssimo dos procuradores: só procurava para os outros. Após
vinte anos de incessante trabalho, por sóis e chuvas, muita canseira e muita humilhação,
achava-se ele no mesmo ponto de onde partira, com a diferença que partira aos vinte
anos e só, e tinha agora mulher e dois filhos. A odisséia de um desses lutadores do foro
está ainda por escrever. Se alguém a fizer, há de sair-lhe menos brilhante e variada que a
outra, mas pode ser que mais triste ainda que monótona, ou talvez por isso mesmo.
Mas não tratemos agora do procurador nem das suas peregrinações. Tratemos do filho
dele, Silvestre, um descorado menino de quinze anos, melancólico, taciturno, metido
consigo, flor nascida em lugar de pouco sol, prestes a dobrar o cálice, para a terra, de
onde veio. Silvestre custara à mãe dores infinitas; talvez por isso era mais amado do que
a irmã, menina de doze anos, viva, alegre, refeita, a vender saúde por todos os poros. O
pai compensava a filha, amando-a mais do que ao irmão. Ao cabo, ambos os pais
queriam a ambos os filhos, com uma leve nuance e nada mais.