Um Sonho e Outro Sonho - Machado de Assis
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Prólogo
Crês em sonhos? Há pessoas que os aceitam como a palavra do destino e da verdade.
Outros há que os desprezam. Uma terceira classe explica-os, atribuindo-os a causas
naturais. Entre tantas opiniões não quero saber da tua, leitora, que me lês, principalmente
se és viúva, porque a pessoa a quem aconteceu o que vou dizer era viúva, e o assunto
pode interessar mais particularmente às que perderam os maridos. Não te peço opinião,
mas atenção.
Genoveva, vinte e quatro anos, bonita e rica, tal era a minha viúva. Três anos de viuvez,
um de véu longo, dois de simples vestidos pretos, chapéus pretos, e olhos pretos, que
vinham do consórcio e do berço. A diferença é que agora olhavam para o chão, e, se
olhavam para alguma coisa ou alguém, eram sempre tristes, como os que já não têm
consolação na terra nem provavelmente no céu. Morava em uma casa escondida, para os
lados do Engenho Velho, com a mãe e os criados. Nenhum filho. Um que lhe devia
nascer, foi absorvido pelo nada; tinha cinco meses de gestação.