Virginius - Machado de Assis
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Prólogo
NÃO ME CORREU tranqüilo o S. João de 185. . .
Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o
seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do
talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos
antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chamase
Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.
Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras
dos meus.amigos e conhecidos. . . Nada pude descobrir.
Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e
anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros,
e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir
viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito
desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância
aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a
cavalo e parti.