Viver! - Machado de Assis
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Prólogo
Fim dos tempos. Ahasverus, sentado
em uma rocha, fita longamente
o horizonte, onde passam duas águias
cruzando-se. Medita, depois
sonha. Vai
declinando o
dia.
Ahasverus. — Chego à cláusula dos tempos; este é o limiar da eternidade. A
terra está deserta; nenhum outro homem respira o ar da vida. Sou o último;
posso morrer. Morrer! Deliciosa idéia! Séculos de séculos vivi, cansado,
mortificado, andando sempre, mas ei-los que acabam e vou morrer com eles.
Velha natureza, adeus! Céu azul, imenso céu for aberto para que desçam os
espíritos da vida nova, terra inimiga, que me não comeste os ossos, adeus! O
errante não errará mais. Deus me perdoará, se quiser, mas a morte consolame.
Aquela montanha é áspera como a minha dor; aquelas águias, que ali
passam, devem ser famintas como o meu desespero. Morrereis também,
águias divinas?
Prometeu. — Certo que os homens acabaram; a terra está nua deles.