A Farsa de Inês Pereira - Gil Vicente
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Sinopse
Inês, moça simples e casadoura mas com grande ambição procura marido que seja astuto, sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e cimento, incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado por Lianor Vaz. No entanto, Inês Pereira não se apraz do filho do lavrador, por este ser ignorante e inculto.
Entram então em cena dois casamenteiros judeus, e Inês se casa com um escudeiro, de sua graça Brás da Mata.
Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido astuto acabou por casar com um que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu moço - Fernando - que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua.
Meses após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi morto por um pastor. Não tarda em querer casar de novo e, nesse mesmo dia, chega-lhe a noticia de que Pero Marques continua casadoiro, de resto como ele havia prometido a Inês quando do primeiro encontro de ambos.
Inês casa com ele logo ali e, já no fim da história, aparece um ermitão que se torna amante da protagonista.
O ditado "mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube", não podia ser melhor representado do que na última cena da obra, quando o marido a carrega em ombros até ao amante, e ainda canta com ela "assim são as coisas".
Prólogo
A seguinte farsa de folgar foi representada ao muito alto e mui poderoso rei D.
João, o terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de
MDXXIII. O seu argumento é que porquanto duvidavam certos homens de bom
saber se o Autor fazia de si mesmo estas obras, ou se furtava de outros autores, lhe
deram este tema sobre que fizesse: segundo um exemplo comum que dizem: mais
quero asno que me leve que cavalo que me derrube. E sobre este motivo se fez esta
farsa.
A figuras são as seguintes: Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pêro Marques;
dous Judeus (um chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço; um
Ermitão; Luzia e Fernando.
Finge-se que Inês Pereira, filha de uma mulher de baixa sorte, muito
fantasiosa, está lavrando em casa, e sua mãe é a ouvir missa, e ela canta esta
cantiga:
Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
Que hará quando no os viere?