Ao Correr da Pena - José de Alencar
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Prólogo
e que desejo contar por muitas razões; porque acho-o interessante, porque me livra
dos embaraços de um começo, e me tira de uma grande dificuldade, dispensando-me da
explicação que de qualquer modo seria obrigado a dar. Há de haver muita gente que não
acreditará no meu conto fantástico; mas isto me é indiferente, convencido como estou de que
escritos ao correr da pena são para serem lidos ao correr dos olhos.
Um belo dia, não sei de que ano, uma linda fada, que chamareis como quiserdes, a
poesia ou a imaginação, tomou-se de amores por um moço de talento, um tanto volúvel como
de ordinário o são as fantasias ricas e brilhantes que se deleitam admirando o belo em todas as
formas. Ora, dizem que as fadas não podem sofrer a inconstância, no que lhes acho toda a
razão; e por isso a fada de meu conto, temendo a rivalidade dos anjinhos cá deste mundo,
onde os há tão belos, tomou as formas de uma pena, pena de cisne, linda como os amores, e
entregou-se ao seu amante de corpo e alma.