A Mortalha de Alzira - AluÃsio Azevedo
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Sinopse
A mortalha de Alzira é o oitavo romance de AluÃsio Azevedo, já conhecido do público leitor por obras como O mulato, de 1881. Publica A mortalha de Alzira sob o pseudônimo de VÃtor Leal, em forma de folhetim, no jornal Gazeta de NotÃcias, de 13 de fevereiro a 23 de março de 1891. Em 1892 A mortalha de Alzira será publicado em volume, alcançando muito sucesso: foram vendidos 10.000 exemplares em três anos, o que, na época, foi considerado um recorde. A mortalha de Alzira é o único livro do autor que se passa na sua Ãntegra fora do paÃs, na França, no perÃodo do reino de LuÃs XV, século XVIII, nos arredores de Paris.
Prólogo
A cela misteriosa
No ano de 17**, Paris então muito governado pela Pompadour e um pouco por LuÃs XV, palpitava de entusiasmo com um escândalo original.
Por um instante, a grande cidade libertina distraÃa-se dos seus desregramentos habituais e esquecia a ordem dos Aphrodites e dos Hermaphrodites, e esquecia as picantes palhaçadas de Taconnet e o obsceno macaco de Nicolet e os expressivos fogos de vista de Torré, e esquecia Ruggieri com a sua exibição de pernas e colos importados da América, e esquecia les spetacles pyrrhiques e o Wauxhall, e esquecia as velhacas e célebres representações do barão de Esclapon e da duquesa de Mazarin, e esquecia-se até de ouvir as pilhérias da magra, feia e adorada Guimard, para só ter atenção para o novo escândalo que acabava de surgir inesperadamente.
Era o caso que o famoso pregador La Rose tinha como todos os anos, de pregar o seu sermão da quinta-feira santa na capela real, e fôra acometido por um formidável ataque de asma, justamente na véspera dêsse dia. Escreveu logo ao vigário-geral, seu amigo particular, dando-lhe parte do fato e pedindo-lhe que, sem perda de tempo, tratasse de descobrir alguém que o substituÃsse.
Ora, o caso era deveras apertado! Quem teria a coragem de ir, à última hora substituir La Rose no púlpito da capela real, num dos sermões mais importantes da quaresma?. . .
Substituir La Rose!... La Rose, "o segundo Bossuet", como lhe chamavam seus inúmeros admiradores! La Rose, o amimado pregador da côrte, o protegido de Antoinette Poison, o querido tanto por parte dos Molinistas como por parte dos Jansenistas, o aclamado por todo o alto e baixo público de Paris! La Rose, o indispensável! La Rose, o insubstituÃvel!
E era preciso que êle com efeito estivesse deveras doente, para faltar ao sermão de quinta-feira santa, porque La Rose prezava muito aos seus triunfos na tribuna sacra, e não esperdiçaria fà cilmente uma boa ocasião de orar perante o rei e tôda sua côrte de fidalgos e tôda a sua côrte de letrados.