A Normalista - Adolfo Caminha
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Sinopse
A normalista, de Adolfo Caminha, foi publicado há mais de 110 anos, em 1893. É um dos romances mais naturalistas da nossa literatura e aborda questões polêmicas consideradas interditas pela ordem social e política reinante: o incesto e o adultério, sexo, traição, família, libido e desnuda seus personagens de toda e qualquer roupagem de pudor ou outra virtude que mereça algum louvor.
Na obra existe o regionalismo. O local em que se desenrola o romance é Fortaleza, no Ceará. A maioria das ações acontecem em ambiente fechado, caracterizado sempre como um lugar simples, sem luxo e povoado de sentimentos pequenos.
Prólogo
João Maciel da Mata Gadelha, conhecido em Fortaleza por João da Mata, habitava, há
anos, no Trilho, uma casinhola de porta e janela, cor de açafrão, com a frente encardida pela
fuligem das locomotivas que diariamente cruzavam defronte, e de onde se avistava a Estação
da linha férrea de Baturité. Era amanuense, amigado, e gostava de jogar víspora em família
aos domingos.
Nessa noite estavam reunidas as pessoas do costume. Ao centro da sala, em torno de uma
mesa coberta com um pano xadrez, à luz parca de um candeeiro de louça esfumado, em
forma de abajur, corriam os olhos sobre as velhas coleções desbotadas, enquanto uma voz
fina de mulher flauteava arrastando as sílabas numa cadência morosa: — Vin...te e quatro!
Sessen...ta e nove!... Cinqüen...ta e seis!...
Havia um silêncio morno e concentrado em que destacava o rolar abafado das pedras no
saquinho da baeta verde.
A sala era estreita, sem teto, chão de tijolo, com duas portas para o interior da casa,
paredes escorridas pedindo uma caiação geral. À direita, defronte da janela, dormia um velho
piano de aspecto pobre, encimado por um espelho não menos gasto. O resto da mobília
compunha-se de algumas cadeiras, um sofá entre as duas portas do fundo, a mesa do centro, e
uma espécie de console, colocada à esquerda, onde pousavam dois jarros com flores
artificiais.