História do Futuro - Padre António Vieira
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Sinopse
Esta obra, iniciada em 1649 e reencetada uns 15 anos mais tarde, está inacabada, devido às circunstâncias precárias em que o autor, António Vieira, se encontrava entre 1663 e 1666. Conservou-se o plano do tratado, pelo qual sabemos que a História do Futuro devia compor-se de sete livros e tratar de 59 questões.O assunto principal desta obra era o da instauração do Quinto Império ou do Reino consumado de Cristo na Terra - este reino de mil anos duraria até à vinda do Anticristo e seria um reino universal, a abranger todos os continentes, todas as raças e todas as culturas; um reino cristão e católico, que havia de rematar a conversão dos hereges, maometanos, pagãos e judeus; um reino de paz e harmonia regido por Cristo, mas não directamente: o governo espiritual seria exercido pelo papa de Roma e o governo temporal por um rei português. Não se sabe ao certo quem seria esse monarca mundial, dado que se desconhece a obra na sua íntegra, mas aponta-se para D. Sebastião, D. João IV ou um dos seus dois filhos. Provavelmente, o candidato mais plausível seria D. João IV.Não se sabe exactamente quantas questões enformam esta vasta obra a que Vieira consagrou, durante alguns anos, toda a sua energia, nela depositando a sua confiança. Só se tem conhecimento que três dessas questões, e ainda não de todo concluídas, foram encontradas nos apensos ao seu processo inquisitorial, onde fazem parte dos onze maços que o autor teve de entregar à Mesa no dia 14 de Setembro de 1665. Estes fragmentos só foram editados no século XX.António Vieira fez preceder esta obra de um livro introdutório que fornece esclarecimentos preliminares sobre o espírito profético. É o chamado Livro Anteprimeiro, em que pretendeu definir o espírito profético, dividir as profecias em canónicas e não canónicas e, finalmente, demonstrar que o Reino de Portugal, desde a sua fundação, fora um dos temas predilectos dos diversos profetas. Deste livro constam 12 capítulos que tratam a "matéria, verdade e utilidade da História do Futuro". Vieira deu-lhe o subtítulo de "Esperanças de Portugal": o Livro Anteprimeiro é uma exaltação da pátria portuguesa, escolhida entre todas as nações do Mundo para propagar a fé cristã, predestinada a "descobrir o mundo ao mesmo mundo" e muitas vezes directamente visada pelos profetas do Velho Testamento, entre os quais Isaías pode ser considerado como um "cronista dos descobrimentos de Portugal".
Prólogo
Declara-se a primeira parte do titulo desta História, e quão própria é da
curiosidade humana a sua matéria.
Nenhuma cousa se pode prometer à natureza humana mais conforme ao seu
maior apetite, nem mais superior a toda a sua capacidade, que a notícia dos tempos
e sucessos futuros; e isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao Mundo esta
nova e nunca vista história. As outras histórias contam as cousas passadas, esta
promete dizer as que estão por vir; as outras trazem à memória aqueles sucessos
públicos que viu o Mundo; esta intenta manifestar ao Mundo aqueles segredos
ocultos e escuríssimos que não chega a penetrar o entendimento. Levanta-se este
assunto sobre toda a esfera da capacidade humana, porque Deus, que é a fonte de
toda a sabedoria, posto que repartiu os tesouros dela tão liberalmente com os
homens, e muito mais com o primeiro, sempre reservou para si a ciência dos futuros,
como regalia própria da divindade. Como Deus por natureza seja eterno, é
excelência gloriosa, não tanto de sua sabedoria, quanto de sua eternidade, que
todos os futuros lhe sejam presentes; o homem, filho do tempo, reparte com o
mesmo a sua ciência ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado
menos e do futuro nada.