Cartas Chilenas - Tomás Antônio Gonzaga
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Sinopse
Cartas Chilenas são prosas satíricas, em versos decassílabos brancos, que circularam em Vila Rica poucos anos antes da Inconfidência Mineira, em 1789. Revelando seu lado satírico, num tom mordaz, agressivo, jocoso, pleno de alusões e máscaras, o poeta satiriza ferinamente a mediocridade administrativa, os desmandos dos componentes do governo, o governador de Minas e a Independência do Brasil.
Critilo é um habitante de Santiago do Chile (na verdade Vila Rica), narra os desmandos despóticos e narcisistas do governador chileno Fanfarrão Minésio (na realidade, Luís da Cunha Meneses, governador de Minas até a Inconfidência Mineira).
Por muito tempo discutiu-se a autoria das Cartas Chilenas. A dúvida só acabou após estudos de Afonso Arinos e, principalmente, de Rodrigues Lapa, comparando a obra com cada um dos elementos do "Grupo Mineiro", possíveis autores, quando se concluiu que o verdadeiro autor é Tomás Antônio Gonzaga e que Critilo é ele mesmo e Doroteu, Cláudio Manuel da Costa. Especula-se que a obra tenha sido influenciada por Cartas Persas, de Montesquieu.
Prólogo
Amigo leitor, arribou a certo porto do Brasil, onde eu vivia, um galeão, que vinha das Américas espanholas. Nele
se transportava um mancebo, cavalheiro instruído nas humanas letras. Não me foi dificultoso travar, com ele,
uma estreita amizade e chegou a confiar-me os manuscritos, que trazia. Entre eles encontrei as Cartas Chilenas,
que são um artificioso compêndio das desordens, que fez no seu governo Fanfarrão Minésio, general de Chile.
Logo que li estas Cartas, assentei comigo que as devia traduzir na nossa língua, não só porque as julguei
merecedoras deste obséquio pela simplicidade do seu estilo, como, também, pelo benefício, que resulta ao
público, de se verem satirizadas as insolências deste chefe, para emenda dos mais, que seguem tão vergonhosas
pisadas.
Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode
também corrigir a desordem de um governador despótico.
Eu mudei algumas coisas menos interessantes, para as acomodar melhor ao nosso gosto. Peço-te que me
desculpes algumas faltas, pois, se és douto, hás-de conhecer a suma dificuldade, que há na tradução em verso.
Lê, diverte-te e não queiras fazer juízos temerários sobre a pessoa de Fanfarrão. Há muitos fanfarrões no mundo, e talvez que tu sejas também um deles, etc.