Mana Maria - Alcântara Machado
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Prólogo
- Vá perguntar pra mana Maria.
Era assim desde que a mãe morrera. Era assim a propósito de tudo. Mana Maria é que resolvia,
mandava, punha e dispunha, fazia, desfazia. E Ana Teresa obedecia.
Quando Dona Purezinha morreu, deixou Ana Teresa com dez anos. Tinha duas tranças
compridas e com uma delas quis enxugar as lágrimas diante do cadáver da mãe. E foi ai que
sentiu pela primeira vez a nova autoridade. Mana Maria deu um puxão na trança e lhe pôs um
lenço na mão:
- Enxugue com o lenço.
Lenço seco.
De fato a coragem de mana Maria foi uma coisa que admirou toda a gente. Não derramou uma
lágrima. Não teve um gesto, uma expressão de sofrimento. Ninguém esperava tanta fortaleza de
ânimo num corpo tão franzino.
Dona Purezinha agonizou seis meses com um cancro no piloro. Era gorda, foi ficando magrinha.
Também era boa, paciente, e foi ficando má, impertinente. Parecia que tudo nela morria, menos
os olhos que enxergavam uma sombra de poeira na cômoda e os ouvidos que percebiam lá
longe, na cozinha, o bater de um prato na pia.