Epicédio - Cláudio Manuel da Costa
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Prólogo
Dizia Sêneca que não era excessiva aquela dor cuja atividade podia respirar no
desafogo das lágrimas: Dolor non est, qui patitur lacrymas. Discorria como discreto,
não como sentido. Motivos há de pena que, não vendo corresponder-lhes ũa
desejada morte, a produzem sucessiva na efusão do pranto; se o lamento é
conseqüência lastimosa da lembrança, quem[2] não experimenta em cada estímulo
da memória magoada uma rigorosa eficácia da mortal agonia? Frutos do excesso da
nossa dor são, Senhor, a mal alinhada pompa destas lágrimas: delas se reveste a
imagem da nossa lástima para consagrar-se com o rosto do alívio a inconsolável
mágoa de Vossa Senhoria e dessa sempre ilustre, sempre gloriosa Congregação
Reformada. Aquele golpe que, imprimindo-se na melhor vida, fez nos corações de
todos o mais sensível eco, quem duvida que em Vossa Senhoria, e nessa
Reformada Clausura, executaria o maior estrago da sua violência! Esta prodigiosa
imagem daquela mística Cidade do Senhor, de quem parece falava Isaías: Omnes
isti congregati sunt, venerunt tibi Não sem alto beneficio da Providência respira
agora adorando na inimitável Prudência, na singular Piedade, no religioso exemplo e
nos inumeráveis dotes de que enriqueceu o Céu a Vossa Senhoria, ou restaurada
aquela glória, que geme sepultada, ou reproduzido aquele Herói, que só em Vossa
Senhoria pudera animar a excelência do seu caráter.