O X da Questão - Eike Batista
Sinopse
Eike Batista é um ícone do sucesso no mundo dos negócios. O "x" presente no nome de cada uma de suas empresas é símbolo da multiplicação de riqueza, ousadia, criatividade e capacidade de execução. Da venda de seguros de porta em porta na Alemanha, da mochila nas costas atrás do sonho dourado nos garimpos da Amazônia ao êxito das aberturas de capital em série, tudo em Eike é superlativo, único e surpreendente.
Em O X da Questão, o maior empreendedor brasileiro narra com sinceridade ímpar suas aventuras de desbravador, desde os maiores sucessos até as experiências que não deram certo e os erros cometidos no curso de projetos vitoriosos. Há lugar também para o que ele qualifica como estresses que o fizeram crescer, a começar pela asma na infância.
Eike Batista expõe ainda o arsenal teórico que está na origem de tantos negócios bem-sucedidos e que é hoje uma cartilha no Grupo EBX: a Visão 360 graus, bússola que norteia as ações do grupo e permite que cada empresa seja uma peça num grande mosaico integrado.
É hora de conhecer em detalhes a saga empresarial do homem que ajudou a colocar o Brasil no mapa-múndi dos negócios e que entende que o lucro se mede em números, mas que o valor de uma empresa se reflete no bem-estar da comunidade em que atua.
Prólogo
Em O mercador de Veneza, uma de suas obras seminais, William
Shakespeare definiu o sábio como o homem que conhece o próprio
filho. Não sou exatamente o que se pode chamar de sábio, mas, sem querer contradizer o bardo, afirmo que conheço muito bem cada um de meus sete
rebentos. E, quanto mais o tempo percorre seu caminho e cumpre sua
missão, maiores são meu orgulho, minha admiração e meu encantamento por
estes pedaços de mim.
É por demais dificultoso para qualquer pai falar publicamente
de seu filho. É como se andássemos sobre um fio de cabelo esticado ao
longo de um penhasco. De um lado, o risco da demasiada adulação; do
outro, a ameaça de uma completa degeneração do senso crítico, ambos
resultado da cegueira imposta pelo véu do afeto. Para os pais, o filho é a soma de todas as virtudes.
Desde já, peço aos leitores um waiver por eventuais desvios e proponho um deságio sobre os inevitáveis elogios que pontuarão
este relato. Até onde o amor e o enlevo permitirem, procurarei equilibrar-me no centro da linha e desempenhar com a maior dose
possível de discernimento a honrosa tarefa de prefaciar a presente obra, que relata a saga de um dos maiores empreendedores da história do
Brasil. Não sou eu que o digo; apenas me remeto à isenção dos fatos.
O primeiro grande acerto de Eike Batista foi não cometer o erro de
negar sua própria natureza. Estava escrito havia 40 mil anos que
Eike seria um entrepreneur puro-sangue. Ainda na adolescência,
irromperam os primeiros sinais de que ele jamais se refestelaria em uma
rede ou se contentaria com desafios rasos. Desde cedo, nunca se deixou
seduzir pelo atalho das falsas facilidades. Uma boa forma de ir além do
possível é marchar na direção do impossível.
Atribuo esta característica de Eike Batista à criação que ele e seus irmãos receberam. E, neste caso, todos os méritos devem ser creditados, com juros, correção monetária e, se possível, CDI e mais 6% ao ano, na
conta de sua saudosa e inesquecível mãe, Jutta Batista. Durante toda a
minha vida, não fui mais do que um engenheiro, um cumpridor de missões.
Quando assumi a área internacional da Vale, fomos todos morar na Europa. Passamos por
Genebra, Dusseldorf e Bruxelas, mas, por força do ofício, minha
verdadeira casa era a poltrona de um avião. Na condição de mascate do
minério brasileiro, que, àquela altura, praticamente inexistia no mapa
da siderurgia mundial, corri por diversas longitudes e latitudes na
tentativa de buscar novos mercados para a Vale e para
o país. Somente ao Japão fiz mais de 170 viagens. Talvez fosse mais simples vender enciclopédias em Plutão.
Forçosamente, passava longas temporadas longe de casa. Embora
procurasse sugar todo o pólen de cada instante ao lado de minha família, lamentavelmente me ausentei mais do que gostaria.
Reconheço, sem qualquer rubor, que, em vários momentos, inevitavelmente fui uma lacuna sentida por meus filhos. Mas agradeço
ao destino por ter encontrado uma companheira exponencial. Jutta foi mãe ao quadrado e, quando necessário, pai ao cubo. Sempre fez de tudo para
que nossos filhos sofressem o mínimo possível as ausências deste
caixeiro viajante da mineração.
Poucas vezes na vida vi uma mulher capaz de promover uma
simbiose tão harmônica entre a disciplina, o rigor, a ternura e a
capacidade de compreensão. Quando precisaram de rigor e limites, meus
filhos os tiveram; quando clamaram por um colo de veludo, este nunca
lhes faltou.
Assim como de seus irmãos, a educação e o caráter de Eike foram
forjados a partir desta valiosa combinação materna. Da mãe, herdou a
pertinácia, o arrojo, o destemor e, sobretudo, a paixão pelo Brasil,
atributos marcantes não apenas da sua trajetória de vida, mas de sua
saga como empreendedor. Desconfio que alguns dos projetos da EBX
começaram a ser formulados nos tenebrosos invernos de Genebra, entre um e outro ensinamento de coragem e persistência que Eike apreendeu de sua
mãe.
De fato, Eike foi abençoado pela genética. Seus avós, tanto paternos quantos maternos, eram pessoas extremamente fortes e saudáveis. A
dificuldade é a mãe do vigor. Meus pais e os pais de Jutta – estes
principalmente por conta da Segunda Guerra Mundial – sofreram grandes
privações na vida. Nada, no entanto, capaz de abalar sua capacidade de
trabalho, determinação, caráter
e ética inquebrantáveis.
Dizia Immanuel Kant que o homem não é nada além daquilo que a
educação fez dele. Nesse sentido, Eike recebeu a melhor das heranças que podem caber a uma pessoa. Para onde quer que olhasse, sempre enxergava
um exemplo de integridade e firmeza moral entre os seus. Esta foi a sua
educação, da qual me orgulho de ter sido partícipe. No entanto, nenhuma
dessas virtudes germinaria se não encontrasse pela frente um campo
fértil. Seu caráter e sua retidão de postura foram os alicerces sobre os quais se ergueram o homem e o realizador chamado Eike Batista.
Desde jovem, Eike demonstrou um apetite voraz por conhecimento. Esta característica sempre me fez enxergar em meu filho a imagem de meu pai, que compensou a reduzida educação formal com um inigualável interesse
pelo saber. Nada o detinha na busca pelo novo.
Essa avidez pelo conhecimento foi determinante para gerar o espírito empreendedor de Eike. Meu filho levou ao extremo o aforismo de Fernando Pessoa. O homem é do tamanho de seu sonho e, desde que começou a
sonhar, Eike nunca mais parou de crescer.
O rio seguiu seu curso naturalmente. O jovem que ainda na faculdade
começou a vender diamantes na Europa embrenhou-se como um bandeirante do século XX na Amazônia em busca de ouro; contra todos os prognósticos,
comprou o risco de um investimento malogrado como a mina de La Coipa,
localizada a quatro mil metros de altitude no deserto do Atacama, e o
transformou em um dos grandes projetos da mineração no Chile; foi
acionista de uma das mais importantes produtoras de ouro do mundo e
simplesmente se tornou o idealizador de um dos maiores empreendimentos
da área de infraestrutura da história deste país. A EBX é um Brasil
dentro de um novo Brasil.
Não cabe aqui incorrer no pecado da redundância e destrinchar os
inúmeros projetos desenvolvidos pela EBX e por suas subsidiárias, os
quais os leitores poderão conhecer um pouco melhor ao longo desta obra.
Mas não posso deixar de destacar alguns pontos fulcrais do que talvez
seja o maior e mais diversificado conjunto de investimentos já feitos
simultaneamente por um grupo privado
neste país. São inúmeras as contribuições dos empreendimentos da EBX
para o Brasil. Eles permitirão a um só tempo ampliar ainda mais a
inserção do minério brasileiro no exterior e sua industrialização no
próprio país, além de equacionar uma parcela considerável do notório gap que enfrentamos na área de logística. São também,
desde o nascedouro, um ponto de atração de investimentos e empresas
estrangeiras para o Brasil, vide o cinturão de indústrias que estão se
instalando no complexo do Superporto do Açu.
Acrescente-se ainda o fato de que o Açu se constitui no melhor sítio para a instalação de indústrias brasileiras tanto com vistas às
exportações quanto à distribuição a grande parte do mercado interno.
Ressalte-se que 80% da nossa economia está concentrada em áreas
localizadas até 200 quilômetros da costa.
Igualmente relevante é a visão sistêmico-holística que faz das
empresas do Grupo EBX um mosaico de peças que se integram e se
complementam. Todas as suas obras seguem este modelo. Eike tem o dom dos grandes empreendedores de enxergar a parte pelo todo e imaginar seus
negócios como um amálgama, o que permite resultados de escala e
economicidade muito maiores.
Não obstante toda a importância per se dos projetos, é absolutamente imperativo ressaltar seu valor simbólico. Todos são resultado da
confiança de um empresário em seu país. O impacto dos empreendimentos da EBX vai muito além das fronteiras do grupo. Na visão de Eike, todos
estes projetos não pertencem exclusivamente a um empresário, aos
acionistas minoritários ou a um grupo de executivos. São investimentos
do Brasil. Eike é movido pela obsessão de gerar e distribuir riquezas em seu próprio país, algo que só faz aumentar a admiração de um pai por um filho.
Deve-se realçar também o compromisso de Eike com o meio ambiente e a sociedade em geral. Todos os empreendimentos da EBX estão alinhados com o que há de mais sofisticado na área da
responsabilidade sociocorporativa. Eles seguem o modelo de Gestão
Integrada do Território, uma evolução da espécie em relação ao conceito
precípuo do desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma concepção muito mais abrangente e, portanto, com resulta dos mais eficazes para a
empresa e para a comunidade. A Gestão Integrada do Território não
contempla apenas o perímetro ocupado por determinado empreendimento, mas todo o seu entorno. Os limites se expandem.
O modelo de Gestão Integrada do Território incorpora à ideia de
sustentabilidade a variável cultural. Neste novo contexto, a cultura
local passa a ter um efeito de transversalidade sobre as variáveis que
sempre guiaram o conceito de desenvolvimento sustentável: econômica,
social e ambiental.
Além da sua notória capacidade de empreender, enxergar riquezas onde muitos só veem risco e, principalmente, de atrair in-
vestidores para seus projetos, Eike Batista age como um empresário moderno, absolutamente comprometido com a sociedade.
Além da geração e distribuição de renda, Eike pensa na perenidade de
seus negócios e das comunidades em que eles estão inseridos. O modelo de Gestão Integrada do Território adotado em suas empresas certamente
servirá de paradigma para outros empreendi mentos tanto no Brasil quanto no exterior. Um dos aspectos mais fantásticos sobre esta nova forma de
se enxergar o desenvolvimen- to sustentável é a certificação do
território, que faz parte de todos os projetos da EBX e em muito pouco
tempo inegavelmente será adotado por outros grupos nacionais e
estrangeiros. Esta medida
permite à empresa e à sociedade entender de forma gestáltica a gestão do território, com base em padrões e indicadores sociais, ambientais,
econômicos e culturais, previamente estabelecidos. Mais
do que uma revolução, trata-se de uma evolução em nome da longevidade econômica, social, ambiental e cultural de uma nação.
Todos os projetos de Eike são resultado da audácia de um empresário de iniciativa, mas, acima de tudo, guiado pelo saber.
Todas as suas decisões são tomadas em cima do conhecimento. Além disso, Eike tem a humildade de se cercar em todas as áreas
em que atua de profissionais altamente talentosos e experientes. Desde
cedo, ele aprendeu que saber ouvir é um dos atributos do empresário de
sucesso.
Pelo porte e diversidade de seus investimentos, o empresário Eike
Batista já é um personagem familiar a boa parte dos brasileiros. No
entanto, poucos conhecem o homem por trás do empreendedor. Ao contrário
do que possa ser a ideia comum a seu respeito, trata-se de uma pessoa
extremamente simples, que leva uma vida relativamente modesta vis-à-vis
seu patrimônio.
Não é meu objetivo cometer inconfidências, mas, em nome do meu afeto e da minha admiração, não posso esconder o orgulho que tenho pelo
caráter e pelo sentimento altruísta de meu filho. Eike é extremamente
generoso. Além do empreendedor que tem criado milhares de empregos,
gerado renda e contribuído para a mudança de vida de tantas famílias,
Eike ainda ajuda diversas pessoas e entidades sem permitir que se dê
qualquer visibilidade ao fato. É impossível gostar do Brasil sem, antes, gostar dos brasileiros.
Espero que este livro cumpra duas missões: permitir que os leitores
conheçam mais amiúde as fartas doses de esforço, dedicação, ousadia e
competência por trás das realizações de Eike Batista e, se possível,
transformar esta trajetória em estímulo para as próximas gerações.
De minha parte, o carinho, o afeto e a admiração se unem a um forte
aplauso. Não sou grande o suficiente para abrigar o orgulho que tenho ao assistir a meu filho liderar uma das maiores sagas empresariais da
história recente do Brasil. Nesta sinuosa contabilidade da vida, um pai
só pode publicar o seu balanço após a divulgação das demonstrações de
seu filho.
São as conquistas do filho que atestam o êxito do pai.
Jutta tinha uma forma bastante especial de motivar nossos filhos.
Ela dizia que todos deveriam ser melhores do que o pai. Não obstante o
personagem escolhido como paradigma não ser lá essas
coisas, tenho certeza de que o ensinamento se introjetou de tal forma
que todos os meus filhos toparam o desafio. E hoje posso dizer com
desmedido orgulho: todos me superaram nas realizações, nas ideias, na
rigidez de caráter e na generosidade. Ter sido ultrapassado por eles é a maior conquista, a peça mais valiosa em minha sala de troféus. Nas
páginas seguintes, a trajetória de Eike Batista, que não me deixa
mentir.
Eliezer Batista