O Defeito de Família - França Junior
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Prólogo
Gertrudes (Examinando a sala) — Como está esta sala! um brinco! Não há nada
como o serviço de um criado estrangeiro.
Josefina (Sentada ao lado da mesa, lendo o Jornal das Famílias) — Na realidade,
papai não podia acertar melhor.
Gertrudes — E que moralidade, minha filha! Ontem ficou mais vermelho do que
fogo de forja, porque entrando casualmente em nosso quarto... Não me lembrava
que és uma criança e que não podes saber essas coisas.
Josefina (Com curiosidade) — O que foi, mamãe?
Gertrudes — Uma indiscrição de teu pai. O que estás vendo aí?
Josefina — O último figurino do Jornal das Famílias. Não acha que este molde de
corpinho ia-me às mil maravilhas? (Mostrando o jornal)
Gertrudes — Vaidosa!
Josefina — O Senhor Artur diz-me constantemente que quem não se enfeita, a si se
enjeita. É preciso, portanto, que eu faça de minha parte todo o possível por agradálo.
Gertrudes — Minha filha, uma menina não deve cativar aquele a quem ama por
essas fofas exterioridades que morrem com a lua de mel, mas sim pelos dotes do
coração e do espírito.
Josefina (Levanta-se) — O que vosmecê acaba de dizer é muito bonito, mas
infelizmente na nossa família há exemplos do contrário. O noivo de Joaninha
desmanchou o casamento porque, estando uma vez a conversar com ela,
surpreendeu-lhe por baixo do vestido a ponta de um chinelo-de-tapete.
Gertrudes — Ora, de quem vens me falar! Um desgraçado, sem eira nem beira, que
ia fazer a sua infelicidade! Ela deve levantar as mãos para o céu, e agradecer à
Providência o favor que lhe concedeu.