A Mulher Pálida - Machado de Assis
Download no computador / eBook Reader / Mobile
100 kb
Prólogo
Rangeu enfim o último degrau da escada ao peso do vasto corpo do major Bento. O major
deteve-se um minuto, respirou à larga, como se acabasse de subir, não a escada do
sobrinho, mas a de Jacó, e enfiou pelo corredor adiante.
A casa era na Rua da Misericórdia, uma casa de sobrado cujo locatário sublocara três
aposentos a estudantes. O aposento de Máximo era ao fundo, à esquerda, perto de uma
janela que dava para a cozinha de uma casa da rua D. Manuel. Triste lugar, triste
aposento, e tristíssimo habitante, a julgá-lo pelo rosto com que apareceu às pancadinhas
do major. Este bateu, com efeito, e bateu duas vezes, sem impaciência nem sofreguidão.
Logo que bateu a segunda vez, ouviu estalar dentro uma cama, e logo um ruído de
chinelas ao chão, depois um silêncio curto, enfim, moveu-se a chave e abriu-se a porta.
— Quem é? — ia dizendo a pessoa que abrira. E logo: — é o tio Bento.
A pessoa era um rapaz de vinte anos, magro, um pouco amarelo, não alto, nem elegante.
Tinha os cabelos despenteados, vestia um chambre velho de ramagens, que foram
vistosas no seu tempo, calçava umas chinelas de tapete; tudo asseado e tudo pobre. O
aposento condizia com o habitante: era o alinho na miséria. Uma cama, uma pequena
mesa, três cadeiras, um lavatório, alguns livros, dois baús, e pouco mais.
— Viva o sr. estudante, disse o major sentando-se na cadeira que o rapaz lhe oferecera.
— Vosmecê por aqui, é novidade, disse Máximo. Vem a passeio ou negócio?
— Nem negócio nem passeio. Venho...