João Fernandes - Machado de Assis
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Prólogo
Há muitos anos. O sino de S. Francisco de Paula bateu duas horas. Desde pouco mais de
meia noite deixou este rapaz, João Fernandes, o botequim da Rua do Hospício, onde lhe
deram chá com torradas, e um charuto por cinco tostões. João Fernandes desceu pela
rua do Ouvidor, na esquina da dos Ourives viu uma patrulha. Na da Quitanda deu com
dois caixeiros que conversavam antes de ir cada um para o seu armazém. Não os
conhecia, mas presumiu que fossem tais, e acertou; eram ambos moços, quase imberbes.
Falavam de amores.
— A Rosinha não tem razão, dizia um; eu conheço muito bem o Miranda...
— Estás enganado; o Miranda é uma besta.
João Fernandes foi até à rua Primeiro de Março; desandou, os dois caixeiros despediamse;
um seguiu para a rua de S. Bento, outro para a de S. José.
— Vão dormir! suspirou ele.
Iam rareando os encontros. A patrulha caminhava até o largo de S. Francisco de Paula.
No largo passaram dois vultos, ao longe. Três tílburis, parados junto à Escola Politécnica,
aguardavam fregueses. João Fernandes, que vinha poupando o charuto, não pôde mais;
não tendo fósforos, endireitou para um dos tílburis.
— Vamos, patrão, disse o cocheiro; para onde é?
— Não é serviço, não; você tem fósforos?