Valério - Machado de Assis
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Prólogo
Valério era fluminense; veio à luz com a revolução de 1831. O pai estava no campo,
enquanto ele nascia humildemente, entre as lágrimas de sua mãe e os cuidados de uma
velha comadre. Quando o pai voltou à casa, encontrou esse aumento na família. Beijou o
filho, consolou a mulher, comeu alguma coisa, e foi passar a noite num dos clubes do
tempo.
A paternidade é anterior à sociedade; mas os amores novos fazem esquecer os velhos, e
a paixão política domina, em certos casos, os primeiros instintos da natureza.
Nascido entre lágrimas, foi Valério criado entre penas. O pai, que era um pobre militar,
não tinha recursos de sobra para deixar à família, e morreu pouco depois da revolução. A
mãe educou como pôde o pequeno até à idade de sete anos; a pobre senhora morreu
sem poder vê-lo num colégio. Valério passou então à casa do padrinho, que era um
general conhecido naquele tempo por suas façanhas e mentiras, mas no fim de contas
boa alma e amigo de ser-vir. O general mandou ensinar ao afilhado os primeiros
rudimentos da língua e um pouco de latim. Vendo os progressos do pequeno, determinou
mandá-lo estudar direito, e nesse propósito estava quando faleceu sem testamento. Os
poucos bens que tinha caíram nas mãos dos parentes, e Valério ficou senhor das
calçadas da rua, na idade de catorze anos.