Bons Dias! - Machado de Assis
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Sinopse
Crônicas jornalísticas de um ano-chave para o Brasil e para a vida do escritor: 1888. O fim do Império é narrado com pena suave.
Prólogo
BONS DIAS!
Hão de reconhecer que sou bem criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir logo dizendo o que me
parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana. Mas, não senhor; chego à porta, e o meu
primeiro cuidado é dar-lhe os bons dias. Agora, se o leitor não me disser a mesma cousa, em resposta, é
porque é um grande malcriado, um grosseirão de borla e capelo; ficando, todavia, entendido que há leitor
e leitor, e que eu, explicando-me com tão nobre franqueza, não me refiro ao leitor, que está agora com
este papel na mão, mas ao seu vizinho. Ora bem!
Feito esse cumprimento, que não é do estilo, mas é honesto declaro que não apresento programa. Depois
de um recente discurso proferido no Beethoven, acho perigoso que uma pessoa diga claramente o que é
que vai fazer; o melhor é lazer calado. Nisto pareço-me com o principie (sempre é bom parecer-se a gente
com príncipes, em alguma cousa, dá certa dignidade, e faz lembrar um sujeito muito alto e louro
parecidíssimo com o imperador, que há cerca de trinta anos ia a todas as festas da Capela Imperial, pour
étonner de bourgeois; os fiéis levavam a olhar para um e para outro, e a compará-los, admirados, e ele
teso, grave, movendo a cabeça à maneira de Sua Majestade. São gostos de Bismark. O príncipe de
Bismark tem feito tudo sem programa público; a única orelha que o ouviu, foi a do finado imperador, — e
talvez só a direita, com ordem de o não repetir à esquerda. O parlamento e o país viram só o resto.