Charneca em Flor - Florbela Espanca
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Sinopse
Charneca em Flor é o volume de poemas de Florbela Espanca publicado após a sua morte em 1931, pela Livraria Gonçalves de Coimbra. As duas primeiras edições foram organizadas por Guido Batelli, professor italiano visitante na Universidade de Coimbra, com quem Florbela manteve correspondência durante os últimos meses da sua vida.
A primeira edição é composta por cinquenta e seis sonetos, enquanto a segunda, do mesmo ano, contém mais vinte e oito peças. De uma carta de 15 de Maio de 1927 dirigida a José Emídio Amaro, director de jornal D. Nuno de Vila Viçosa, sabemos que a antologia foi concluída já naquela época. Alguns dos poemas de Florbela estampados no jornal com que colaborava iriam fazer parte da coletânea. Entretanto, a escritora não conseguiu encontrar um editor para a sua obra.
Quando em Julho de 1930 Guido Batelli ofereceu a sua ajuda, Florbela sentia uma enorme pressa em ver o livro publicado. Porém, conseguiu rever somente as provas tipográficas, já que cometeu suicídio em Dezembro do mesmo ano.
Finalmente, nos primeiros dias de Janeiro, cerca de um mês depois da morte da autora, Charneca em Flor conheceu a luz do dia. Possivelmente, seria para Florbela um livro de recordações, em que a poetisa registaria as melhores lembranças da vida. Trata-se, sem dúvida, do livro em que Florbela que melhor consegue condensar as suas vivências, passando-as à poesia como nunca o fizera antes. É em Charneca em Flor que melhor se define a sua sensibilidade. Considerado como o seu livro mais sincero, é nele que Florbela retrata a fase mais difícil e pessoal da sua vivência como poetisa, e presta homenagem à sua terra natal.
Prólogo
CHARNECA EM FLOR
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!