A Moça mais Bonita do Rio de Janeiro - Artur Azevedo
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Prólogo
Era em 1875. Numa pequena casa do Engenho Novo habitava, em companhia dos pais, a
moça mais bonita do Rio de Janeiro. Como houvesse nascido a 2 de maio, recebera na pia
batismal, por simples indicação da folhinha, o nome de Mafalda; entretanto, ninguém a
conhecia por esse nome, pois desde o berço começaram todos de casa a chamar-lhe
Fadinha, corruptela e diminutivo de Mafalda. E bem lhe assentavam aquelas três sílabas,
porque a moça, aos dezoito anos, possuía todos os encantos que têm, ou devem ter, as
fadas, e na sua beleza extraordinária havia, realmente, qualquer coisa de sobrenatural e
fantástico.
Morena, desse moreno fluido que só Murillo encontrou na sua maravilhosa paleta, de olhos
negros e úmidos, narinas dilatadas, lábios grossos mas graciosamente contornados, abrindose,
de vez em quando, para mostrar os mais belos dentes, cabelos negros como os olhos,
abundantes, ligeiramente ondeados, apanhados sempre com um desalinho estético, deixando
ver duas orelhas de um desenho tão impecável, que fora crime cobri-las - e todas essas
partes completando-se umas às outras no oval harmonioso do rosto, Fadinha, por unânime
deliberação do júri mais rigoroso, ganharia com toda a certeza o primeiro prêmio, se naquela
época se lembrassem de abrir no Rio de Janeiro um concurso de beleza feminina. Todo o seu
corpo se compadecia com a cabeça; era esbelta sem ser alta, robusta sem ser gorda, e as
suas formas apresentavam uma extraordinária correção de linhas. As mãos e os pés eram
modelos.