Crepúsculo dos Ídolos - Friedrich Nietzsche
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Sinopse
"Crepúsculo dos ídolos" ou como Filosofar com o Martelo foi a penúltima obra de Nietzsche, escrita e impressa em 1888, pouco antes de o filósofo perder a razão. O próprio Nietzsche a caracterizou - numa das cartas acrescentadas em apêndice a esta edição - como um aperitivo, destinado a "abrir o apetite" dos leitores para a sua filosofia. Trata-se de uma síntese e introdução a toda a sua obra, e ao mesmo tempo uma "declaração de guerra". É com espírito guerreiro que ele se lança contra os "ídolos", as ilusões antigas e novas do Ocidente: a moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as idéias e tendências modernas e seus representantes. De tão variados e abrangentes, esses ataques compõem um mosaico dos temas e atitudes do autor: o perspectivismo, o aristocratismo, o realismo ante a sexualidade, o materialismo, a abordagem psicológica de artistas e pensadores, o antigermanismo, a misoginia. O título é uma paródia do título de uma opera de Wagner, Crepúsculo dos deuses. No subtítulo, a palavra "martelo" deve ser entendida como marreta, para destroçar os ídolos, e também como diapasão, para, ao tocar as estátuas dos ídolos, comprovar que são ocos.
Prólogo
Conservar a sua serenidade frente a algo sombrio, que requer responsabilidade além de toda medida,
não é algo que exige pouca habilidade: e, no entanto, o que seria mais necessário do que a serenidade?
Nada chega efetivamente a vingar, sem que a altivez aí tome parte. Somente um excedente de força é
demonstração de força. - Uma transvaloração de todos os valores, este ponto de interrogação tão negro,
tão monstruoso, que chega até mesmo a lançar sombras sobre quem o instaura - um tal destino de tarefa
nos obriga a todo instante a correr para o sol, a sacudir de nós mesmos uma seriedade que se tomou
pesada, por demais pesada. Qualquer meio para tanto é correto, qualquer "caso", um golpe de sorte.
Sobretudo a guerra. A guerra sempre foi a grande prudência de todos os espíritos que se tornaram por
demais ensimesmados, por demais profundos; a força curadora está no próprio ferimento. Uma
sentença, cuja origem mantenho oculta frente à curiosidade douta, tem sido há muito meu lema:
increscunt animi, virescit volnere virtus.1
Uma outra convalescença, que sob certas circunstâncias é para mim ainda mais desejável, consiste
em auscultar os ídolos... Há mais ídolos do que realidades no mundo: este é o meu "mau olhado" em
relação a esse mundo, bem como meu "mau ouvido"... Há que se colocar aqui ao menos uma vez
questões com o martelo, e, talvez, escutar como resposta aquele célebre som oco, que fala de vísceras
intumescidas - que encanto para aquele que possui orelhas por detrás das orelhas! - para mim, velho
psicólogo e caçador de ratos que precisa fazer falar em voz alta exatamente o que gostaria de
permanecer em silêncio...