Páginas Críticas e Comemorativas - Machado de Assis
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Prólogo
GONÇALVES DIAS
Discurso lido no Passeio Público, ao inaugurar-se o busto de Gonçalves Dias.
SR. Prefeito do Distrito Federal,
A comissão que tomou a si erguer este monumento, incumbiu-me, como presidente da
Academia Brasileira, de o entregar a V. Ex.a, como representante da cidade. O encargo
é não somente honroso, mas particularmente agradável à Academia e a mim.
Se eu houvesse de dizer tudo o que este busto exprime para nós, faria um discurso, e é
justamente o que os autores da homenagem não devem querer neste momento. Conta
Renan que, uma hora antes dos funerais de George Sand, quando alguns cogitavam no
que convinha proferir à beira da sepultura, ouviu-se no parque da defunta cantar um
rouxinol. "Ah! eis o verdadeiro discurso!" disseram eles consigo. O mesmo seria aqui,
se cantasse um sabiá. A ave do nosso grande poeta seria o melhor discurso da ocasião.
Ela repetiria à alma de todos aquela canção do exílio que ensinou aos ouvidos da antiga
mãe-pátria uma lição nova da língua de Camões. Não importa! A canção está em todos
nós, com os outros cantos que ele veio espalhando pela vida e pelo mundo, e o som dos
golpes de Itajubá, a piedade de I-Juca-Pirama, os suspiros de Coema, tudo o que os mais
velhos ouviram na mocidade, depois os mais jovens, e daqui em diante ouvirão outros e
outros, enquanto a língua que falamos for a língua dos nossos destinos.