Eterno! - Machado de Assis
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Prólogo
— NÃO ME EXPLIQUES nada, disse eu entrando no quarto; é o negócio da baronesa.
Norberto enxugou os olhos e sentou-se na cama, com as pernas pendentes. Eu, cavalgando
uma cadeira, pousei a barba no dorso, e proferi este breve discurso:
— Mas, meu pateta, quantas vezes queres que te diga que acabes com essa paixão ridícula e
humilhante? Sim, senhor, humilhante e ridícula, porque ela não faz caso de ti; e demais, é
arriscado. Não? Verás se o é, quando o barão desconfiar que lhe arrastas a asa à mulher.
Olha que ele tem cara de maus bofes.
Norberto meteu as unhas na cabeça, desesperado. Tinha-me escrito cedo, pedindo que fosse
confortá-lo e dar-lhe algum conselho; esperara-me na rua, até perto de uma hora da noite,
defronte da casa de pensão em que eu morava; contava-me na carta que não dormira, que
recebera um golpe terrível, falava em atirar-se ao mar. Eu, apesar de outro golpe que
também recebera, acudi ao meu pobre Norberto. Éramos da mesma idade, estudávamos
medicina, com a diferença que eu repetia o terceiro ano, que perdera, por vadio. Norberto
vivia com os pais; não em cabendo igual fortuna, por havê-los perdido, vivia de uma
mesada que me dava um tio da Bahia, e das dívidas que o bom velho pagava
semestralmente. Pagava-as, e escrevia-me logo uma porção de cousas amargas, concluindo
sempre que, pelo menos, fosse estudando até ser doutor. Doutor, para quê? dizia comigo.